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    sábado, 1 de agosto de 2009

    Mudar em educação, por Marcos Rolim


    Falta de educação e coragem os problemas do Brasil são. Todos os indicadores disponíveis demonstram que a situação do ensino público, especialmente, é calamitosa. Pesquisa divulgada esta semana (Saresp) encontrou que 49,8% dos alunos de São Paulo que concluem o segundo grau não possuem a menor ideia do que seja ciência. Observe-se que este contingente já representa uma minoria, pois a maior parte abandonou a escola antes. Outra avaliação, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), já havia situado nosso país no 52º lugar em uma lista de 57 nações quanto aos conhecimentos das disciplinas científicas. O problema possui várias causas como a falta de laboratórios e a precariedade das próprias escolas, mas salta aos olhos a desqualificação dos professores: segundo dados da Capes, apenas 8% dos professores de física e 12% dos de química no Brasil são formados na área.

    Nas demais áreas, a situação não é distinta. Nossos alunos estão entrando nas universidades sem saber escrever uma frase direito e poucos são capazes de citar um livro importante que tenham lido na vida. Todos os semestres, distribuo aos meus alunos no IPA – no primeiro dia de aula – uma lista com dezenas de fotos de pessoas importantes nas áreas da filosofia, da literatura, da música, das artes plásticas, das ciências sociais etc. No meio delas, coloco algumas fotos de “celebridades” – este tipo de gente que frequenta as piores páginas de nossa imprensa pela exata razão de serem “celebridades”. Os alunos não conseguem identificar Gandhi, Martin Luther King, Mandela, Picasso, Dali, Marx, Freud, Darwin, Einstein, Neruda, Carlos Drummond, entre outros tantos. Mas identificam Paris Hilton, o último ganhador do Big Brother e Bussunda. Há algo de assustador nisso. Você comenta sobre um clássico do cinema, ninguém viu; cita uma passagem histórica, ninguém sabe do que se trata; faz referência a um dramaturgo e te perguntam o que é um dramaturgo; pede que os alunos discorram sobre um tema e alguém pergunta o que é “discorrer”. Se imaginou que o acesso à internet pudesse melhorar o nível cultural dos jovens.

    Poderia, mas o que ocorre é que eles não possuem os critérios básicos para separar o que devem acessar. Falta à grande maioria deles precisamente o início, o conceito.

    Adoro dar aulas e tenho a sorte de trabalhar em uma instituição vocacionada pelos direitos humanos que se colocou o desafio de uma educação inclusiva. Nossas universidades, com todos os seus limites, se aperfeiçoam e oferecem uma contribuição extraordinária. O problema da educação brasileira está situado bem antes. Não está no vestibular ou no Enem, está na qualidade do ensino oferecido às crianças e adolescentes da rede pública. Ou investimos pra valer nisto, ou seguiremos condenados ao obscurantismo. Os políticos que temos, os sindicatos, a polícia, a imprensa e as injustiças que temos, tudo começa ou termina na educação. É isso que governo, Cpers e Assembleia Legislativa deveriam ter a coragem de discutir neste momento; o resto é conversa. Precisamos de excelentes educadores. Isto envolve revirar o financiamento da educação brasileira para deslocar a maior parte dos recursos para o Ensino Fundamental. Para que se remunere muito bem o magistério, para que os professores se qualifiquem, para que sejam avaliados e exigidos e para que se premie o mérito, como se espera em uma República.

    marcos@rolim.com.br

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